Susy Barboza é escritora, poetisa e compositora e quer compartilhar pensamentos
Uma pessoa que me é muito especial está muito brava porque, pela manhã, ao ser atendida na padaria, próxima ao trabalho, onde toma seu café da manhã, não está sendo servida adequadamente pois o sagrado pão nosso de cada dia está com aspecto muito ruim e com muito pouca manteiga...
Baiana arretada, rasgou o verbo, inutilmente, com sua bela voz cantante e, se bem conheço, de péssimo humor pela manhã...
Cheguei a ficar irada com tal atendente cuja esposa, se é que a tem, deve ter dormido muito de calças jeans ultimamente devido ao frio e ao insensível coração do parceiro... Queria, eu mesma, esganá-lo por tanta mesquinhez. E se um dia ele precisar de sangue? Ela trabalha no estoque...
- Olhe meu querido, não posso lhe servir mais sangue não...
Mas, como disse antes, a baiana releva tudo, se orienta e logo foi, atenta, se dirigindo ao trabalho. E passou.
Depois de ouvi-la, atentamente, desligo o telefone e começo a meditar sobre as histórias dela e divagar sobre o pão e seu problema.
Ora, o pão é sagrado, o café da manhã, importante... e olhe que o mal humor dela pela manhã é monumental... Como resolver?
Soluções Possíveis
A maneira mais fácil, que parece obvio, seria trocar a padaria, mas, e o desafio de resolver o problema? Alem disso, se ela se dirige até lá deve ter um bom motivo.... É perto do trabalho, é um ambiente agradável, o café deve ser muito bom pra compensar o pão...
Descartando a troca do estabelecimento, continuo a divagar:
Busquemos outro atendente... Imagina a cena...
- Bom dia meu querido, sei que está tudo lotado aqui, mas quero ser atendida por outra pessoa... (Sempre o sorriso)...
Creio que daria mais confusão ainda.
Falemos com o gerente...
- Quem é o gerente dessa bodega aqui?
- Que? Não tem gerente? Creeeeeedo... To passada...
(gente, ela é ótima)
Esqueço-me do gerente e busco alternativas, afinal, isso não pode se repetir.
Penso no pão, seu aspecto horrriiiivellll, como ela descreveu.
Penso no Pai Nosso (o atendente devia pensar) e no Pão Nosso
De cada dia e resolvo que só por Deus mesmo.
Mas a culpa não é de Deus, pois ele está provendo o pão, o sustento, a padaria e o atendente. Daí penso na insatisfação humana e seus limites (ou a falta deles)...
Visualizo uma passeata em frente a padaria com cartazes exigindo a melhora na qualidade do pão, com piquetes de hora em hora, e convoco a imprensa para cobrir o evento. Desisto logo da idéia por achar assim... Como posso dizer... radical demais?
Mas não sou eu que come aquele bendito pão esturricado e sem manteiga suficiente. Volto ao problema do pão...
Na verdade não é o pão o problema, mas sim o que fazemos com ele. É é o que fazemos também com nossas vidas...
Vejo agora o pão como representação do corpo.
Consumimos, e,a cada dia, mais avidamente... Queremos tudo pronto. No máximo uma esquentadinha no micro e pronto...
Mas não é assim...
Temos tudo na natureza e na consciência humana... Mas nada pronto.
Temos diamantes encontrados na rua e desprezados por não reconhecermos neles sua real beleza interior... Não lapidamos...
O pão é um diamante bruto, é trigo...
O atendente é bruto, dá no pão disfarçada polida, mas não lapida o pão...
Temos a vida, somos diamantes raros mas não lapidamos, não brilhamos...
E dá mesmo trabalho lapidar, as vezes uma vida inteira... Mas, quanto mais nos concentramos nisso melhor ficamos. É a lei da evolução humana, perfeita por não ser de origem humana...
Em nossas orações fazemos pedidos como quem faz a lista do supermercado. Não rogamos, ordenamos a Deus que nos dê, que nos envie pra ontem... Cá entre nós, se eu fosse Deus não ia me conformar com isso...
- Meu querido, qual parte do ¨ se vira aí até aprender¨ que você não entendeu?
Então a solução é lapidar...
Penso na melhoria do pão, valor agregado, no custo fixo, no variável, no viável e chego à conclusão de que não posso arcar com tamanho custo sem repassar ao consumidor final, é inviável...
(Minha querida Bel... chega a dar um nó na minha cabeça)...
A grande solução é aplicar a lei garantida do capitalismo imperialista que não falha:
Ameace. Se não me servir de acordo vai fazer o boca-a-boca negativo e ai o atendente vai ser demitido porque não vai entrar uma viva alma aqui pra engolir, com tamanho mau humor de uma manhã chuvosa,
o tal sofrido e judiado pão esturricado que é vendido nessa espelunca.
Se nem isso der certo, minha filha, como disse no início, parte pra outra que é mais fácil...
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