21/8/2008 - São Roque - SP

Professor de Mairinque e Alumínio é preso acusado de pedofilia

A Polícia Civil apresentou ontem à imprensa as provas de pedofilia que incriminam o acusado Marcio Leandro de Souza, 30 anos, professor de educação física em Alumínio e Mairinque. Vinte fotos, que mostram pelo menos quatro crianças sendo vítimas de abusos sexuais, foram resgatadas da memória do computador do professor e são as principais provas contra ele. O caso chegou às autoridades depois da denúncia da mãe de um aluno e em dois meses de investigação Souza foi preso. As autoridades esperam que com a divulgação do caso mais vítimas apareçam, já que o professor tinha contato com mais de 400 crianças e adolescentes.

Numa coletiva de imprensa realizada ontem pela manhã na Delegacia de Alumínio, a delegada responsável pelo caso, Maria Silvia Fonseca Joly, apresentou o laudo do Instituto de Criminalística (IC) que aponta: de milhões de imagens foram recuperadas 20. São fotos de crianças nuas, possivelmente em vestiários, algumas delas praticando sexo oral, resumiu. A delegada informou que as imagens comprometedoras já haviam sido apagadas da memória do computador do professor quando o equipamento foi apreendido em sua casa, no último dia 26 de junho - ocasião em que outros nove CDs, nove disquetes e três máquinas fotográficas também foram recolhidos pelas autoridades.
No entanto, as fotos foram resgatadas pela equipe técnica do IC, responsável também pela investigação de crimes de informática. Mesmo ele negando o crime e dizendo que suas máquinas fotográficas eram freqüentemente emprestadas e usadas por diversos conhecidos, as imagens que mostram os fatos foram retiradas do computador dele. São provas materiais e inquestionáveis, garantiu ela. Além disso, a delegada se apoia no depoimento de uma criança, um menino de onze anos, que segundo Maria Silvia, já fez todos os exames e é, até o momento, a principal testemunha contra Souza. O garoto falou o que aconteceu e nós descobrimos imagens de fatos no computador dele. Não há dúvidas, ressaltou.

O próximo passo da polícia agora é localizar as crianças que estão nas imagens e descobrir onde e quando as fotos foram feitas. Nosso serviço agora é de investigação. Não acabou. Há muito para se fazer, disse ela. Para isso a polícia civil percorrerá os lugares onde o professor dava aula. O objetivo é identificar os vestiários e banheiros que estão nas imagens. Maria Silvia ressaltou ontem que, como há fotos de outras crianças, ela espera que com a divulgação do caso, mais vítimas apareçam. Nós estamos à disposição de todos os pais de vítimas. Saibam que podem contar conosco e que a denúncia é importante, sintetizou.

O caso
No último 17 de junho, a mãe de um aluno da escolinha de futsal Gol de Craque, de Mairinque, registrou Boletim de Ocorrência contra o conhecido professor Márcio. No registro policial, a dona de casa contou que o filho de onze anos mudou de comportamento, desde fevereiro último, e depois de questioná-lo durante os meses o menino falou que foi molestado sexualmente por Souza, no vestiário do Ginásio Municipal Paulo Jacob de Oliveira durante o projeto Ferias Quentes desenvolvido em Alumínio. Apesar de morarem em Mairinque, como o crime aconteceu em Alumínio, foi investigado pela polícia local.

De acordo com a delegada responsável pelo caso, depois de uma investigação preliminar o pedido de busca e apreensão na casa do acusado foi liberado no dia 26 de junho pela Justiça local. Foi nesse momento, na casa dele, que ele soube que estava sendo investigado. Foram apreendidos vários objetos de informática, destacou Maria Silvia. No decorrer das semanas, afirmou, a investigação continuou.

O laudo saiu e na seqüência solicitamos a prisão preventiva dele. Acreditamos que preso, sem poder coagir as vítimas, teremos mais êxito na apuração dos crimes, salientou ela. Souza foi preso na tarde da última terça-feira, dia 19. Segundo a delegada ele se manteve calmo e quieto. Não resistiu. A prisão foi na sua casa, no bairro Granada, em Mairinque, onde ele mora com os pais. Percebemos que todos foram surpreendidos. É um crime muito grave, afirmou ela. O professor foi autuado na delegacia de Alumínio, onde negou as acusações, e depois encaminhado para uma cadeia da região. Munidos das provas e da prisão do professor, as autoridades decidiram divulgar o caso a fim de localizar outras vítimas.

Crime x pena
A pedofilia, que significa interesse sexual por crianças e adolescentes, ainda não é discriminada no código penal. A sua prática, ou seja, quando um adulto abusa, molesta ou atenta contra menores, é que é tida como crime. A pena varia entre seis e dez anos de prisão, mas pode ser acumulada (mais de dez anos de reclusão) caso existam várias vítimas comprovadas.

Chocados, moradores procuram informações
Os moradores das cidades de Mairinque e Alumínio estão chocados e revoltados com o caso do professor Márcio Leandro de Souza. Ontem foi possível ouvir, em vários lugares de parada, as pessoas comentando o ocorrido. Profissionais que trabalharam com o acusado se mostraram surpreendidos com sua prisão. Souza tinha um currículo invejável, com participação até nos Jogos Pan-americanos de 2007.

Duas mães foram encontradas na porta da delegacia de Mairinque querendo saber detalhes sobre a história. Uma delas disse com revolta: A gente acha que está fazendo um bem para o filho, mantende-o num projeto escolar de esporte e, por fim, somos surpreendidos com uma aberração, desabafou. A outra, ainda incrédula retrucou: Mas será mesmo verdade? Fiquei tão confusa. Ele parecia tão bom moço, dedicado, exigente. É difícil acreditar que o Márcio fez isso, opinou.

Como uma das mães, um dos chefes do professor também estava surpreso. Foi como se definiu o diretor do Departamento de Esportes de Alumínio, João Carlos Rodrigues da Paz. Responsável pelo setor há quatro anos, ele disse que Márcio Leandro trabalhava como coordenador esportivo municipal há três anos e meio e que ele nunca havia demonstrado nenhuma anomalia.
Nunca esperei isso, nem passou pela cabeça. Eu fiquei realmente triste. Eu sou pai, sou avô e garanto, quando colocamos nossos descendentes em escolinhas de futebol, acreditamos no profissional. Essa situação é chocante, relatou. Segundo o diretor, as acusações afrontam a conduta do professor. Ele tinha um currículo invejável. Até curso de primeiros socorros ele tinha. Sua conduta era disciplinada e prestativa, de personalidade calma. Era praticamente um orgulho para nós tê-lo conosco. Tínhamos segurança em deixar as crianças sob sua responsabilidade, desabafou.

O mesmo foi apontado pelo diretor do Departamento de Administração da Prefeitura de Alumínio, Marcio Magno Lacerda. Fomos pegos de surpresa e estamos chocados. Ele tinha praticamente uma conduta inquestionável, tranqüilo. Nunca tivemos problemas com ele, de nenhum gênero. Era um bom funcionário, resumiu. Tanto Rodrigues quanto Lacerda garantiram que a Prefeitura de Alumínio irá aguardar os próximos passos da polícia para resolver a situação trabalhista do professor. A verdade é que se ele for culpado terá que pagar, falou Rodrigues.

Choque silencioso
Os policiais civis envolvidos com o caso se mostraram chocados com o crime. Isso porque as imagens de crianças sendo abusadas sexualmente são evidentes e não deixam dúvidas sobre o ato. O delegado seccional de Sorocaba, André Moron, disse na última terça-feira, após a prisão do professor, que a equipe estava revoltada. O mesmo foi afirmado ontem pela delegada Maria Silvia Fonseca, responsável pelo caso. Ela limitou-se em dizer que não tinha palavras para descrever ou comentar um crime tão grave, sério e inaceitável.

Ainda ontem, na coletiva de imprensa feita pela Polícia Civil de Alumínio, a reação dos profissionais de impresa foi de silêncio total ao verem as imagens que são provas contra Marcio Leandro. No momento em que a delegada folhou o inquérito e assim, mostrou algumas fotos, todos os jornalistas presentes demoraram segundos para acreditar no que viam. O silêncio e o desconforto foi geral.

Entrevista no Cruzeiro contava sobre o Pan
No aniversário de Alumínio do ano passado, dia 2 de abril, o Cruzeiro do Sul publicou uma edição especial sobre a cidade, na qual há uma entrevista com o Marcio Leandro de Souza. Intitulado Alumínio no Pan, o texto contava a história do professor de educação física que, como voluntário, foi selecionado para coordenar equipes de futsal no Pan 2007, no Rio de Janeiro.

Na ocasião da entrevista, Márcio contou que há dez anos se dedicava a treinar equipes, inclusive femininas, de futsal. Na época era responsável por cerca de 300 crianças e adolescentes que tinham idades entre 6 e 21 anos, que estavam ligadas à rede municipal de ensino de Alumínio e Mairinque.

O rapaz se cadastrou no Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e foi selecionado em julho de 2006. Fez treinamento no Rio de Janeiro três meses antes dos jogos e foi homenageado pelos pais e alunos de Alumínio em junho do ano passado, pouco antes de seguir para o Pan.

No Orkut
Na página pessoal do professor, no site de relacionamento Orkut, não há nada que o desabone. No perfil, ele mostra ser uma pessoa comum, morador de Mairinque, amante do esporte. Tem mais de 260 amigos conectados, a maioria jovens. As comunidades a que pertence são comuns e variadas como O poderoso Timão, Eu confio em Deus, Brasileirão 2008, Falcão, o rei do Futsal.
Nas fotos, todas ligadas à profissão, aparece junto das equipes que coordena, em Mairinque e Alumínio, desde infantis como fraldinha, até juvenis como Sub-18. Há muitas imagens dele no Pan 2007, com celebridades do esporte como Cesar Cielo, Diego Hipólito, Popó, Falcão e até com o presidente Lula. Quanto aos recados, todos registrados antes de sua prisão, mensagens de carinho e admiração, a maioria deixadas por adolescentes.

Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul